Atualmente, o exercício da memória é intenso. Nesse sentido, há produções artístico-literárias que refletem sobre os efeitos das falhas e perdas da memória, como as causadas pelo Alzheimer. Sendo assim, propomos nesta comunicação uma leitura dos efeitos do esquecimento causados por essa doença em Desarticulaciones (2010) de Sylvia Molloy, especialmente os que incidem sobre a amizade entre as duas protagonistas. Neste livro, a narradora escreve um testemunho das visitas à ML., amiga que está com Alzheimer. Estes encontros são relatados em forma de um diário da desarticulação da memória da amiga que vai apagando lembranças que compartilham. O compartilhamento de restos de lembranças que sobrevivem no presente da escritura é o que possibilita a continuação da amizade entre ML. e a narradora, o que as faz seguir co-existindo, mesmo que a relação esteja corroída pelo esquecimento e sob ameaça de uma dissolução. Concluímos que a escritora-narradora constrói a amiga doente e a si mesma como seres interdependentes que se transformam e se constróem nessa relação de amizade. Portanto, o esquecimento causado pelo Alzheimer afeta as duas amigas, pois a memória em decomposição de uma delas impacta e ameaça o relacionamento de ambas e, por conseguinte, as suas próprias constituições subjetivas.