A chamada cibercultura, conjunto de valores e práticas sociais propagados a partir do meio virtual (LÉVY 1999), é responsável pelo surgimento de diversos gêneros discursivos, visto que estes se adaptam às novas necessidades dos sujeitos, como propõe Bakhtin (2006). Um exemplo disso é o gênero fanfiction, objeto de estudo desta pesquisa, que se configura como uma história escrita por fãs de conteúdos provenientes principalmente da cultura de massa (séries televisivas e livros, em sua maioria) que sentem a necessidade de criar sua própria história utilizando diferentes elementos socioculturais e pontos de vista. Este trabalho é um recorte de nossa dissertação de mestrado, que se encontra em desenvolvimento no PPGLEN-UFRJ. Aliados à perspectiva dos estudos discursivos (PÊCHEUX & FUCHS, 1990; INDURSKY, 2011), investigamos fanfictions distópicas desenvolvidas por hispanofalantes pertencentes ao fandom de Jogos Vorazes, com o objetivo de analisar o processo de tradução cultural (BHABHA, 1998) e o modo como estes textos produzidos no ciberespaço contribuem para a mudança discursiva em relação às narrativas que lhes servem como fonte intertextual. Além disso, pretendemos refletir a respeito da função-autor (FOUCAULT, 2001) neste gênero. Embora a pesquisa ainda esteja em processo de geração de dados, nossa hipótese em relação aos resultados a serem alcançados é a de que as fanfictions sofrem alterações tanto em seu conteúdo temático, quanto em sua dimensão linguístico-enunciativa, visto que são mobilizadas formações discursivas distintas da obra original, proporcionando ao leitor contato com outras memórias discursivas e valores culturais que acarretam consecutivamente modos de ressignificação do dizer.