Vivemos atualmente um paradoxo complexo em relação ao ensino de língua espanhola e à sua presença no Brasil. Se, por um lado, nunca se ouviu/viu tanto o espanhol (em suas diversas variedades) em redes sociais, serviços de streaming etc., por outro, as políticas públicas educacionais retiram essa língua dos currículos formais escolares. Neste trabalho, busco, assim, criar inteligibilidades (MOITA LOPES, 2009) sobre o panorama atual, analisando a trajetória do ensino de espanhol no Brasil. Tal trajetória vem sendo analisada, em geral, pela articulação de pesquisas em políticas linguísticas e políticas educacionais que buscam compreender os fenômenos de sua expansão e/ou retração ao longo dos anos (LEFFA, 1999; CELADA e GONZÁLEZ, 2000; DAHER, 2006; FREITAS E BARRETO, 2007; PARAQUETT, 2009; RODRIGUES, 2010; FREITAS, 2011; RAJAGOPALAN, 2013; entre outros). Meu objetivo, com esta apresentação, é retomar esses trabalhos e buscar, em articulação com eles, acrescentar a perspectiva do conceito de políticas cognitivas (KASTRUP, 2005, 2012, 2015). Tal conceito se baseia na dimensão política da cognição e, consequentemente, nas relações que se constroem com a aprendizagem em diferentes contextos. Elas se apresentam em dois polos (KASTRUP, 2005, 2012, 2015): políticas de recognição, que entendem sujeitos e mundos como preexistentes às situações de aprendizagem e políticas de invenção, que enxergam mundos e subjetividades como efeitos de práticas (de aprendizagem). Entendendo que políticas linguísticas e educacionais são atravessadas por políticas cognitivas (VARGAS, 2017) e observando os trabalhos supracitados sobre a trajetória do ensino de espanhol no Brasil, bem como documentos e leis recentes que visam a normatizar tal ensino, é possível notar que a história do ensino de espanhol é atravessada por políticas de recognição, que precisam ser repensadas. Este trabalho é também um convite para esse (re)pensar.