DIÁLOGOS INCLUSIVOS NOS DIFERENTES CAMINHOS DA EDUCAÇÃO
NA PAUTA DO V CINTEDI: TECENDO REDES DE SOLIDARIEDADE NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA
“Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar”.
Paulo Freire (1992)
O V Congresso Internacional de Educação Inclusiva – CINTEDI, realizado no período de 12 a 14 de junho de 2024, em Campina Grande, Paraíba - Brasil, foi marcado por muitos diálogos em busca de favorecer a inclusão nos mais variados ambientes, espaços, rodas de conversas, palestras, numa troca de saberes e conhecimentos imensuráveis. Reencontros aconteceram com muitas emoções, lembranças, sorrisos e muita esperança na EDUCAÇÃO. Paulo Freire (1992) nos ensina que é caminhando que aprendemos a fazer o caminho, as dificuldades e desafios devem ser enfrentados, com isso aprendemos com as experiências vividas. A educação é um caminho e a educação inclusiva é o nosso sonho. Nosso evento foi um momento desta caminhada.
Nesse sentido, o V CINTEDI contou com a presença de estudantes, professoras/es e pesquisadoras/es, no âmbito nacional e internacional. O evento contou com vinte Áreas Temáticas, em que foi discutida a diversidade da Educação Inclusiva, resultando em quatro E-books. Na presente obra, contemplamos as áreas de Educação Infantil; Educação Popular e do Campo; Educação de Jovens, Adultos e Idosos; Comunicação, Práticas de Leitura, Escrita e Inclusão; Habilidades Socioemocionais e Inclusão; Interfaces entre Saúde e Inclusão; Diversidade Étnico-racial, de Gênero e Sexualidade e, por fim, Inclusão Social e Direitos Humanos.
Na Área Temática Educação Infantil, são apresentadas duas contribuições. O primeiro texto trata da questão da avaliação, e destaca o cuidado com o acolhimento, a observação, a escuta e a narrativa da documentação pedagógica, como também com a formação continuada dos docentes. O segundo texto apresenta uma experiência desenvolvida no Estágio Supervisionado do curso de Pedagogia, em uma sala de Atendimento Educacional Especializado - AEE, etapa Educação Infantil. Sendo experiência muito desafiadora, a vivência permitiu conhecer as dificuldades de implementação da política de inclusão.
Na sequência, são apresentados os textos da temática Educação Popular e do Campo, que dialogam com diversas experiências. Na prática da Educação Popular é destaque, no primeiro texto, o trabalho com as mulheres camponesas, suas experiências de vida e trajetórias como líderes comunitárias que, nos espaços de terreiros domésticos, problematizam suas histórias, se empoderam, fortalecem seus relacionamentos de amizade, de conhecimentos e aprendizagens sobre a política de inclusão das relações de gênero. No texto seguinte, é analisada a Marcha das Margaridas, evento que congrega várias organizações populares de mulheres, sobretudo do campo, e movimentos sociais do brejo paraibano, buscando compreender se esse é um espaço formativo de construção de conhecimentos e novas identidades.
Ainda na mesma Área Temática, o terceiro artigo apresenta pesquisa que destaca a contribuição dos movimentos sociais para construção de uma educação do campo e a conquista de políticas públicas voltadas para formação da cidadania desta população.
Sobre a aprendizagem na Educação de Jovens, Adultos e Idosos, é relatado uma experiência de atividades no componente curricular “Teoria e Método em Geografia”, com pessoas com deficiência. Nesse, foi constatada a necessidade de incremento na quantidade de monitores para acompanhamento das atividades e que a deficiência é apenas um obstáculo que deve ser enfrentado, e não um impedimento para a aprendizagem.
Dando continuidade as trocas de conhecimentos, a Área Temática Comunicação, Práticas de Leitura, Escrita e Inclusão apresentou três artigos. O primeiro trata do relato de experiência do componente curricular Estágio Curricular Supervisionado II, Ensino de Literatura e Língua Portuguesa no Ensino Fundamental. Nele, buscou-se estudar o gênero textual dramático, visto esse ser muito excluído do cotidiano da sala de aula. O segundo texto é um artigo que aborda o processo de correção textual em dissertações argumentativas escritas por estudantes do Ensino Médio em escola pública, no âmbito da educação inclusiva de Língua Portuguesa. E o terceiro consiste em uma pesquisa sobre literatura de cordel de autoria feminina, discutida no componente curricular Tópicos Especiais em Teoria da Literatura, onde se destacam o trágico, o mágico e o mito.
Nas linhas seguintes, integrando a Área Temática Habilidades Socioemocionais e Inclusão, é destacado estudo sobre como a inteligência emocional é fundamental no desenvolvimento de estudantes, tanto no campo das relações humanas como na formação escolar, especialmente daqueles com neurodesenvolvimento atípico. Os resultados da pesquisa apontam para necessária inclusão destes estudantes nas salas de aulas regulares e para a importância da atuação docente no desenvolvimento deste processo. Na sequência, é apresentada uma experiência de grupo de escoteiros, sua organização, atividades e funções.
Um desafio permanente nas discussões sobre Inclusão de pessoas com deficiência na educação é a relação com o campo da saúde, como é necessário aprofundar a reflexão para superação de barreiras, sobretudo, quando elas servem para categorizar, segregar e rotular. No artigo que integra a Área Temática Interfaces entre Saúde e Inclusão, é ressaltado que a exigência de laudos não pode restringir o direito de crianças e adolescentes vivenciarem nas escolas a experiência de aprender.
Nas discussões sobre Diversidade Étnico-Racial, de Gênero e Sexualidade foram abordadas várias experiências de pesquisa. No primeiro texto destaca-se o brincar na Educação Infantil a partir das relações de gênero e sexualidade. Os resultados da pesquisa apontaram para (re)produção de práticas machistas e sexistas, bem como, para novos modos de ser e agir que rompem com tais práticas. O segundo texto aborda a narrativa da trajetória acadêmica de mulheres doutoras negras no campo das Ciências da Natureza, observando quais as dificuldades enfrentadas por estas profissionais. A terceira pesquisa questiona a fragilidade da formação crítica do novo currículo do Ensino Médio, o processo ensino - aprendizagem e a precarização do trabalho docente. No texto, destaca-se que a Educação Inclusiva precisa ser uma cultura que contempla todas as pessoas, estudantes com deficiência, bem como, a necessidade da contínua reflexão sobre as questões de cor/raça, classe e gênero.
Na sequência, ainda na Área Temática Diversidade Étnico-Racial, de Gênero e Sexualidade, o quarto texto trata de uma pesquisa sobre os currículos dos cursos de Pedagogia das instituições de ensino superior públicas do Paraná/Brasil, com intuito de mapear a formação de professores para inclusão, relações étnico-raciais e a educação quilombola. Constatou-se que esta formação ainda é superficial, mesmo que seja uma necessidade para o combate ao racismo, preconceito e discriminação. Os textos seguintes tratam das relações de gênero. A quinta pesquisa aborda as relações de trabalho, problematizando as desigualdades entre homens e mulheres nas agências de turismo. Foi constatado que as mulheres enfrentam desafios em diversas situações de exploração e discriminações. Por fim, o sexto texto discute sobre os discursos heteronormativos de arranjos familiares em livros paradidáticos dos anos iniciais do ensino fundamental. Neste sentido constatou-se que, embora existam exceções, estes materiais ainda transmitem um discurso de família normativo desconsiderando a diversidade de modelos familiares existentes.
Na última Área Temática deste ebook, Inclusão Social e Direitos Humanos, diversas experiências destacam o esforço de promoção da inclusão. Na primeira, que aborda o trabalho com a música e pessoas com deficiência, constatou-se que existem propostas pedagógicas adaptadas às necessidades educativas especiais, sem diminuir a qualidade e o conteúdo para os estudantes, chegando à proposição de uma Educação Musical Especial. No segundo texto, o estudo aborda o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) por idosos. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que visa contribuir com a discussão da temática. A terceira experiência reflete sobre um trabalho de intervenção em turma do 8º ano dos anos finais do Ensino Fundamental, visando sensibilizar sobre a inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular. Para tanto, envolveu-se a comunidade escolar na proposta.
Dando continuidade à Área Temática Inclusão Social e Direitos Humanos, o quarto texto traz estudo que aborda a Educação para os Direitos Humanos desenvolvida numa escola pública existente num presídio, em que os estudantes são indivíduos privados de liberdade. O artigo seguinte apresenta a existência do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão nas instituições federais de ensino superior, sua importância, trabalho e abrangência, juntamente com a assistência social. Por fim, o último artigo - não menos importante - é uma pesquisa bibliográfica integrativa sobre os impactos dos princípios dos Direitos Humanos e a inclusão social no ensino superior. Assumir esses princípios no cotidiano da academia, promovendo diálogos críticos, favorece a conscientização sobre igualdade e inclusão social no ambiente universitário.
Desejamos que estes estudos ajudem na sua prática pedagógica, caminhando para a tessitura de redes de solidariedade e a vivência de uma Educação Inclusiva. Esperamos você no VI CINTEDI.
Prof. Dr. Eduardo Gomes Onofre - Universidade Estadual da Paraíba - UEPB
Profa. Dra. Margareth Maria de Melo - Universidade Estadual da Paraíba - UEPB
Profa. Dra. Sandra Meza - Universidade do Chile
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
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