Os arranjos familiares, através da dinâmica das inter-relações sociais, são marcados pela heterogeneidade, pluralidade e diferença. No entanto, esses aspectos por vezes são negados em decorrência dos discursos hegemônicos, que, ao classificarem o modelo de família nuclear como único arranjo aceitável, natural e legítimo, acaba produzindo categorizações de artificialidade e incoerência sobre determinadas organizações familiares. Compreendendo que os livros paradidáticos, recursos pedagógicos utilizados em sala de aula para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, podem se configurar como instrumentos que perpetuam esses atravessamentos, este estudo se objetiva em analisar os discursos heteronormativos sobre arranjos familiares em livros paradidáticos dos anos iniciais do Ensino Fundamental (1° ao 5° ano). No que se refere à metodologia, trata-se de uma pesquisa qualitativa educacional documental pautada no campo teórico-metodológico dos Estudos Culturais em Educação numa perspectiva pós-estruturalista, localizando-se ainda nas discussões relacionadas aos estudos de gênero e sexualidade. O observado na análise do discurso é que os livros paradidáticos, apesar de trazerem exceções, corroboram com a proposição generificada dos corpos e atuam como sustentáculos para a reprodução dos discursos heteronormativos no contexto escolar, onde consequentemente desconsideram a diversidade de modelos familiares existentes no meio social, buscando fixar, legitimar e cristalizar o arranjo familiar normativo composto por um homem, uma mulher e filhos, centrado em uma perspectiva discursiva de características essencialistas, biologicistas e padronizantes.