O conceito de identidade é uma das principais noções teóricas para o campo dos Estudos Culturais (assim como para os estudos pós-coloniais) e discutido por estudiosos como Stuart Hall (1992), Homi Bhabha (1994), dentre outros. Também importante referência teórica, a autora chicana Gloria Anzaldúa introduz nos textos To Live in the Borderlands (1987) e Borderlands/La Frontera (1987), a ideia de uma identidade mestiza que nasce da fronteira interseccional simbólica de múltiplos espaços identitários. De semelhante modo, a autora indiana-canadense Rupi Kaur descreve na seção ‘‘rooting’’ do livro The Sun and Her Flowers (2017) uma ‘‘ponte’’ entre a Índia e o Canadá e através dessa fronteira mais ampla constrói sua identidade fragmentada, assim como expõe a exclusão, a subalternização e o silenciamento do sujeito de fronteira, principalmente na condição de imigrante. Nessa perspectiva, considerando ainda a relação homóloga entre a estrutura descentralizada da fronteira simbólica e aquela do espaço urbano, bem como a influência da cidade na formação da identidade e da cultura da qual trata Lehan (1998), percebe-se um diálogo entre as autoras e seus textos, uma vez que ambas partem do ambiente urbano enquanto zona de conflito e descrevem o profundo impacto que os laços com a cidade possuem na formação das identidades híbridas ou mestiças representadas.