O objetivo deste estudo é identificar as estratégias de verbalização em tradições discursivas utilizadas em um cenário de luta e de resistência do século XIX. O aporte teórico deste estudo baseia-se no modelo de Tradição Discursiva, com Castilho, Andrade e Gomes (2018), Gomes (2007), Kabatek (2005; 2006 e 2012), Koch (1997) e Longhin (2014). O corpus formado por 30 correspondências, datadas de 1881-1888, destinadas a João Ramos, líder abolicionista pernambucano. Neste recorte, constam cartas de amigo, cartas institucionais e bilhetes, com as suas respectivas tradições discursivas e formas linguísticas de proximidade ou distância comunicativa. Os resultados deste estudo evidenciam a finalidade comunicativa das correspondências (cartas pessoais, cartas institucionais e bilhetes) e a tradição discursiva na composição de cada tipo no cenário abolicionista pernambucano. Por meio de correspondências quase diárias enviadas a João Ramos é que se demonstrava a força dos movimentos abolicionistas pernambucanos do século XIX. Diante disso, parte-se para a análise das Tradições Discursivas identificadas nas correspondências, discutindo os elementos constitutivos das cartas: local, data, vocativo, captação de benevolência, corpo do texto e despedida. O local e a data fazem parte dos traços mais fixos da carta, bem como o vocativo, que marca textualmente o interlocutor; a captação de benevolência pode aparecer em qualquer parte da carta, mas é mais frequente na abertura ou na conclusão; no corpo ou núcleo da carta é onde se encontra o motivo pelo qual a carta foi escrita; a despedida geralmente é elaborada numa constituição formulaica e com a assinatura do escrevente. A relação entre os interlocutores e a estrutura retórica tradicional das cartas de amigos e dos bilhetes revelam traços de proximidade comunicativa e das cartas institucionais a distância comunicativa.