Este artigo pretende argumentar o teor testemunhal na poesia do curitibano Paulo Leminski. Se por “testemunho” entendermos ora um texto de amor e fé na esfera religiosa, ora a traumática memória de Auschwitz pelos sobreviventes e porta-vozes do Holocausto, podemos assim estender essa dupla concepção e tomar a poesia de Leminski como experiência da violência de sua época. Para isso, analisaremos sua composição de forma poética haikai na obra Caprichos e relaxos (1983) e na obra póstuma La vie en close (1994), e apresentaremos a tese de que em seus livros de poesia Leminski tanto é fiel à tradição oriental e “mística” do haikai, quanto o subverte, pondo-o nos bancos da memória. Deste modo, articularemos história, memória e literatura, em um espaço cambiante que só será possível construir com Maurice Blanchot (2001; 2007), através do método de Antonio Candido de literatura colada à vida (2006), e faremos desta articulação um fio condutor para fazer ver a poesia na era das catástrofes, seguindo Hobsbawn (1995), concluindo que há nos haikais analisados de Leminski uma intrínseca relação entre a dor e o real. E se a crítica do poeta concorda com a figura do guerreiro da linguagem, é então na ética do samurai nipônico que encontramos uma poesia de testemunho porosa e humorada, poesia em brasa diante do horror do real.