O conto “No baile Acadiano” (1892), de Kate Chopin, é conhecido por relatar o início dos eventos que culminarão naquela que é considerada a obra mais erótica da autora: o conto “O Temporal” (1969). Entretanto, o vigésimo conto da coletânea Bayou Folk (1894) é repleto de símbolos e referências à cultura regional do sul dos Estados Unidos. Em uma de suas passagens mais significativas, é narrado que um ciclone destruiu a plantação de arroz de Alcée Laballière, uma das personagens principais. Esse ciclone “foi uma coisa terrível, que veio tão de repente, sem aviso para que se pudesse acender uma vela para o santo ou queimar um pedaço de palma benta”. A referência à vela e à palma são índices regionais do substrato cultural-religioso do estado da Louisiana que, diferentemente dos estados do norte e do leste dos Estados Unidos, é de base católica. Para um leitor desse conto de Kate Chopin que tenha nascido e crescido no interior do estado de São Paulo em finais do século XX, essas referências são particularmente significativas, uma vez que acender uma vela e um ramo bentos em dias de tempestade eram gestos comumente praticados, especialmente pelas pessoas mais velhas, até por volta de finais da década de 1980 naquela região do Brasil. Essa aparente coincidência torna o conto de Chopin um texto que aproxima países e culturas tão distantes quanto Estados Unidos e Brasil. Nesta comunicação/trabalho pretende-se analisar os aspectos transculturais e religiosos da referida “coincidência” para demonstrar que o regional e o internacional podem se revelar inesperadamente próximos na obra chopiniana, bem como índices de uma abertura para um processo de significação atemporal e a-espacial que se mostra produtivo ad infinitum.