Em pleno século XXI, por que ainda estudamos autores de diversos séculos anteriores, tão antigos e, supostamente, tão distantes de nosso tempo? O que suas obras ainda teriam a nos dizer? Sabendo que o não “atual” continua instigando-nos, vale questionarmos se de fato a escrita distante de nosso tempo cronologicamente implica uma não atualidade. Miguel de Unamuno direciona esta questão com a seguinte constatação: “El entretenerse en lo que se llama cuestiones de actualidad, palpitantes, de urgencia, suele ser no querer afrontar las de actualidad permanente” (UNAMUNO, 1972, p. 167). Então haveria uma atualidade permanente em oposição a uma mera atualidade? Acreditando que a obra do pensador espanhol Miguel de Unamuno se insere no que o próprio autor chama de atualidade permanente, podemos dizer que Unamuno é nosso contemporâneo. Ainda que tenha vivido da segunda metade do século XIX ao início do século XX, Miguel de Unamuno, tendo sido todo um homem (terminologia do próprio autor) em sua época, permanece sempre atual. Com suas angústias e inquietações, ousou dizer o que pensava e defender sua pátria conforme julgasse adequado, arriscando-se frequentemente em tempos ditatoriais. Sua constante preocupação era o dilema de sua personalidade, era a busca de ser todo um homem e deixar isto como legado para a humanidade. Tal postura vital já nos lança inevitavelmente em sua metafísica pessoal. Sabendo que as palavras na obra unamuniana são retiradas de seus significados desgastados pelo uso cotidiano e despontam novos sentidos, muitas vezes a partir da própria origem vocabular revisitada, o presente trabalho objetiva investigar o que seria a metafísica pessoal unamuniana. Cabe primeiramente a pergunta sobre o que vem a ser a metafísica. Muitos filósofos responderam a esta questão, apontando os mais diversos caminhos. Não se trata aqui de apresentar uma história dos empregos do termo metafísica, mas de tentar sentir/pensar o que seria a metafísica pessoal unamuniana, tomando como base principalmente o texto do autor "Y va de cuento", inserido no livro "El espejo de la muerte".