Este artigo, intitulado Urbanização e desaparecimento de bairros boêmios latino-americanos, objetiva analisar as relações entre modernização, metrópole e subúrbio. Visa, também, examinar a questão do impacto do processo de urbanização sobre o rápido desaparecimento de alguns bairros que ficaram famosos por abrigar uma boêmia significante e atuante em cidades latino-americanas como Rio de Janeiro e Buenos Aires. O mencionado processo de urbanização apresenta, como um de seus aspectos negativos, a tendência a concentrar seus esforços de melhoria da infraestrutura social nos centros urbanos, em detrimento dos espaços dos subúrbios e das pessoas que ali residem. São utilizadas como parâmetros as contribuições literárias, sobre o tema, de autores como o argentino Jorge Luis Borges e o brasileiro João Antônio. O primeiro, em virtude de sua denúncia sobre o desaparecimento de bairros boêmios da capital portenha, como, por exemplo, o bairro de Palermo. O segundo, devido à crítica que apresenta sobre o descaso das autoridades para com o processo de esquecimento urbano do bairro boêmio da Lapa carioca. Os autores mostram que determinadas manifestações populares e folclóricas vêm sendo paulatinamente destruídas e/ou deformadas pela descaracterização/desaparecimento dos bairros boêmios onde surgiram. As contribuições desses autores serão submetidas ao crivo crítico de Walter Benjamin e Beatriz Sarlo, com o objetivo de verificar a importância da urbanização na alteração de costumes, tradições e folclore das populações urbanas, principalmente nos subúrbios das respectivas metrópoles. Serão alvo de exame os textos Juan Muraña, de Borges e Lapa acordada para morrer de João Antônio.