Nossa proposta é demonstrar de que maneira a narrativa de Vilela se torna dissonante em relação ao contexto no qual está inserida. Esta dissonância configura-se como resistência ao que oprime o indivíduo – inserindo-se, aí, as relações sociais encarceradoras, a barbárie do mundo moderno capitalista e a solidão. Entre os contornos que esta resistência adquire, destacamos a volta ao passado e à infância como formas de resgate e valorização de sonhos que reinventam a vida. Para demonstrar nossas proposições, destacamos “A volta do campeão”, conto em que o protagonista, um homem doente de quase sessenta anos, passa seus dias entediado e desinteressado de tudo, até encontrar um grupo de garotos jogando bilocas que o faz reviver toda emoção dos tempos de menino. O colorido das bilocas figurativiza os ideais e desejos que, de algum modo, permaneceram nos recônditos da infância perdida. E, a despeito de Edmundo encontrar um novo sentido para sua vida, as pressões da família fazem com que a personagem desista dos novos amigos. De mesmo modo, no conto “O violino” é a figura de uma criança que possibilita o resgate de valores positivos, pois estas não foram ainda tolhidas pelos falsos conceitos cristalizados do mundo adulto. É um menino que, ao descobrir o velho violino no porão – espaço simbólico que abriga sonhos do passado –, possibilita o despertar de tia Lázara para antigas emoções. Novamente aqui, serão as pressões familiares as responsáveis pela conformação da personagem à desistência e à renúncia dos sonhos. Nos contos em questão, podem-se perceber normas e comportamentos sociais que situam a velhice à margem da vida e a voz do narrador, ao solidarizar-se com a profunda solidão a que são relegados, é dissonante diante do status quo.