O texto que abre Ó, de Nuno Ramos, publicado em 2008, Manchas da pele, linguagem, trilhando o caminho do tato ao espelho, traz em si o reconhecimento do corpo, do estranho ao corpo: “meu corpo se parece muito comigo, embora eu o estranhe às vezes” (RAMOS, 2008, p.13). Essa frase assemelha-se a uma sentença sobre a literatura do autor. Senão como sentença, como uma espécie de inventário de uma obra que, com frequência, é apontada como híbrida, multi. Assim, o objetivo deste trabalho é, partindo da constatação recorrente do hibridismo na obra literária do autor, colocar como questão os limites do gênero em Ó, de modo a, para além da tentativa de uma categorização, sob o nome do híbrido, apontar uma literatura que, como um corpo que regozija a ampliação de sua área tátil - no esgarçamento de sua pele, que cresce circundando um corpo cada vez mais incrustado -, assimila aquilo que é posto contra ela, se torna cada vez mais gorda e gruda em si aquilo que a ela chega, tal qual um boneco de piche.