O estudo discute as implicações da noção de alteridade freudiana aplicadas ao verbo literário, ou seja, a uma forma representativa da experiência humana no eixo do jogo social contemporâneo. O tema em questão é discutido a partir do comportamento da personagem Meursault, no romance O Estrangeiro (Albert Camus). Entendendo que, na arte do romance, independente do repertório estilístico de cada criador, o objeto de imitação é sempre o ser humano, e que há aí implicado todo um esforço pela captação dos traços essenciais do ontológico, esta pesquisa defende que no romance em tela e, particularmente, na persona em questão, estamos diante de um Homo Fictus incomunicável, que anula a presença do outro e dos seus sentimentos na construção da sua individuação no embate do jogo social contemporâneo e suas disputas de poder. Meursault vai buscando sobrepor seu EU, a qualquer existência/resistência da alteridade em situações como o enfrentamento do luto, o casamento e a prática de homicídio, que fazem parte da sua trajetória no curso da diegese. Partimos de uma abordagem teórico-crítica centrada no estrutural, privilegiando a exploração do texto literário, isolando categoria, expressões e termos linguísticos que particularizam o perfil do personagem ausente, apático e alheios ao pacto social que o autor manipulou para a construção do enredo. Nos valeremos da Semiótica (análise estrutural da narrativa), Teoria da Representação Social e Psicanálise como ferramentas de leitura do perfil da personagem, seus porquês em face do tempo cronológico e simbólico abarcado na diegese, assim, traçando diálogo entre esse conjunto intercultural de epistemologias e o processo de escrita do autor em questão.