A Paraíba é um território rico no que se refere à arte do canto e dança da ciranda. Neste sentido, muitas mestras de cultura popular podem ser encontradas em diversos lugares do Estado, principalmente em regiões do interior. Na cidade de Pilar-PB, a ciranda, aliada ao coco de roda tem se destacado bastante, mesmo sendo vítima de processos de desmonte e apagamento ao longo dos últimos anos. É nesse contexto que Odete Josefa da Conceição Souza, Odete de Pilar, mulher negra, analfabeta e pobre tem se destacado como uma das principais vozes do cenário artístico e cultural paraibano, à medida que resiste, enquanto difusora da cultura e saberes ancestrais em um universo de escrevivência marcado pelo machismo, intolerância religiosa e preconceito velado. Por meio de uma abordagem etnográfica com foco no feminismo e nos estudos culturais, utilizando como fundamentos os estudos de Ayala (2015), Angrosino (2009), Zumthor (1997), Candido (2011), entre outros, este trabalho estabelece uma análise da letra da ciranda “Rosa tá dizendo”, lançada no CD Acesa, da cantora pernambucana Alessandra Leão (2022) e de autoria da mestra Odete de Pilar, por constatarmos a oportunidade de compreender, à luz do diálogo concretizado, como ocorre a materialização da resistência, enquanto entidade representativa da voz ancestral que afirma o ofício da mestra enquanto voz mulher que necessita estar ativa e resistente, mesmo em face de experiências negativas que atuam como forças antagônicas que impõem o silenciamento e o apagamento social.