Este estudo propõe uma análise sobre questões de raça e opressão integradas na narrativa especulativa O entardecer, a manhã e a noite (1987), pertencente à coletânea de contos reunidos em Filhos de Sangue e outras histórias (2020), da escritora afro-americana Octavia E. Butler (1947-2006). Considerada um dos grandes nomes do afrofuturismo, a autora dialoga com questões sociais relacionadas às condições dos povos subordinados à margem pelos poderes supremos que regem os valores econômicos e culturais da contemporaneidade. Desse modo, busca-se, nessa pesquisa, identificar como a escritora aborda e metaforiza a temática da exclusão de raça mediante a representação de portadores de uma doença imaginada no cenário distópico em vista da complexidade existente nos personagens ilustrados. Para tanto, o conceito de interseccionalidade será fundamental para a leitura proposta, de modo que este contribui para a compreensão acerca das relações sociais que se estabelecem e se moldam em categorias de raça, classe, gênero, etnia, etc., envolvidas em cenários de discriminação ou dominação. Assim, autores como Akotirene (2018), Collins e Bilge (2016), Schalk (2020), Nogueira (2020), Silva e Silva (2014), dentre outros, serão singulares para demonstrar como o estado de deficiência apresentado na obra fornece alusões sobre a natureza intersecional e mutuamente constitutiva dos indivíduos afetados por atos de repressão.