A questão problematizada nesse trabalho busca retratar o papel designado à mulher na obra Mar afuera (2017), de Grecia Cáceres. Sendo assim, o que interessa aqui é perceber como a personagem consegue romper determinado ciclo diante de um poder institucionalizado (onde sua voz é silenciada pelo mero fato de ser mulher). No livro citado, a autora dá voz à Miranda, protagonista que mal saiu da adolescência: trata-se de uma jovem universitária, que mora com seus pais em Lima e sonha ser escritora. Miranda não percebe que é tratada, nessa sociedade, como uma cidadã de segunda classe por uma simples questão de gênero. Dessa forma não consegue ser responsável pela própria vida, pois não tem nem o direito de escolha e nem o de tomar decisões, onde sempre fez aquilo que esperavam dela – intimamente mergulhada na sociedade sufocante em que a própria família estava inserida. Além disso, essa mesma sociedade determinava todo o seu comportamento (desde os lugares onde poderia ir até a escolha da pessoa com a qual deveria namorar). Por causa de toda essa hipocrisia, a personagem foi levada a optar pelo casamento após ficar grávida. Dessa forma, deixou a família conduzir sua vida e pagou um alto preço por isso: sua vontade. Só consegue se reencontrar consigo mesma e com seus sonhos ao descobrir o rio Sena quando chega a Paris. Graças a ele e às suas andanças sempre rodeadas de água, percebe a sua própria origem e o poder de ocupar os espaços da sua vida.