A proposta do trabalho é fazer um panorama da produção latino-americana do gênero conhecido no Brasil como “jornalismo literário”, identificado na América Hispânica pelas denominações “crónica”, “periodismo narrativo”, entre outras menos frequentes. Associado geralmente ao “New Journalism” estadunidense – que projetou, na contracultura dos anos 1960, nomes como Tom Wolfe, Gay Talese, Norman Mailer e Truman Capote –, o jornalismo literário, no entanto, é anterior e mais abrangente. Na América Latina, seus pioneiros incluem o brasileiro Euclides da Cunha, o cubano José Martí e o nicaraguense Rubén Darío. Outros marcos são os argentinos Roberto Arlt – cuja obra ficcional se desenvolve em paralelo a uma vasta produção jornalística – e Rodolfo Walsh, que, com o livro-reportagem Operación Masacre (1957), conquistou um lugar definitivo no cânone do gênero. Juntam-se a eles o colombiano Gabriel García Márquez, a mexicana Elena Poniatowska, o argentino Tomás Eloy Martínez, o brasileiro Antonio Callado, entre outros que publicaram textos que se querem ao mesmo tempo literários e jornalísticos. Estabelecidos os antecedentes históricos, o trabalho assume como objeto central a produção contemporânea do jornalismo literário, tomando como referências autoras como a brasileira Eliane Brum e as argentinas Selva Almada e Leila Guerriero. Para além das singularidades estéticas, interessa-nos apontar os aspectos coincidentes e suficientemente representativos para serem assumidos como característicos do gênero, como o caráter acentuadamente híbrido dos textos e o duplo gesto em relação ao olhar, que proclama sua potência ao mesmo tempo em que reconhece suas limitações.