As múltiplas possibilidades da narrativa gráfica para reproduzir o “não-dito” são investigadas no texto, que se propõe a perquirir as contingências de combinação do microdiálogo no mangá Komi-San Wa Komyushou Desu. A obra se cerca nos protagonistas Shouko Komi-san e Hitohito Tadano, dupla de colegiais cuja amizade improvável surge a partir da ansiedade social de Komi e sua dificuldade de se expressar pela oralidade. O silêncio sobrepõe o senso comum em que é erroneamente circunscrito à oposição de sons a fim de tornar-se um espaço produtor do dialogismo, significador por si só. Seus efeitos na relação sujeito, língua e sociedade aqui permitem que a ausência total ou parcial de vocalização não renuncie completamente ao signo verbal, atuante na função de fixação ou complementaridade do enunciado imagético e assim contribuir para a dialogicidade. O trabalho decorre das seguintes indagações: como se configura a posição responsiva do ouvinte diante dos diferentes usos do microdiálogo em Komi-San? Como se dá a construção do “silêncio” na provocação de um manejo cômico dos fatos retratados? Parte-se do processo abdutivo-analógico e do método semiótico, conforme a base teórica de Charles Peirce (2006) acerca da semiótica. O corpus é composto por quatro recortes do volume 01 da versão brasileira de Komi-San (2002), onde observou-se intenções, mecanismos e estratégias indiciadas mediante a estrutura semiótica de cada case na perspectiva dialógica da concepção bakhtiniana (2003), além do uso de signos verbais e não-verbais na representação simbólica do silêncio enquanto prática enunciativa inerente à composição intencional do humor. Dentre os resultados, viu-se que a história ganha agilidade em consonância com o tom pilhérico das situações buscadas, sendo a amplitude do diálogo transcendente ao papel de construto composicional que atua como estilo condutor das inúmeras viabilidades do dizer e interpretar.