As discussões sobre o ensino de línguas foram de grande relevância para o X Congresso Nacional de Educação, o X CONEDU. No GT que tinha como objetivo compreender o ensino de línguas como centro das discussões, com foco no ensino básico porém com contribuições dos mais diferentes contextos, múltiplas abordagens e experiências foram compartilhadas. Visando destacar questões como as habilidades comunicativas, as políticas de pluralismo linguístico, o currículo e sua relação com o ensino de línguas e práticas docentes diversas, o GT que deu origem a este livro contou com mais de cem trabalhos submetidos que propiciaram riquíssimas discussões no evento.
Nos dezenove capítulos selecionados pelo evento para compor este livro, temos pertinentes e variadas discussões sobre o ensino de línguas, partindo dos mais diferentes posicionamentos teóricos e abordagens. As reflexões e experiências práticas aqui compartilhadas trazem questões como o ensino de Línguas para Fins Específicos, a questão do uso de literatura no ensino de línguas adicionais, a utilização de música na sala de aula de línguas adicionais, as diferentes possibilidades apresentadas pela utilização das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação – as TDICs, a utilização de recursos como as redes sociais Instagram e whatsapp para fins pedagógicos, assim como discussões recentes sobre a utilização do celular em sala de aula. A questão da educação inclusiva também é um ponto de grande relevância tratado em alguns dos capítulos aqui apresentados.
Em “ESP e a consolidação da competência leitora em língua inglesa: uma proposta de sequência didática para o ensino médio” são identificadas as principais dificuldades enfrentadas por alunos do ensino médio no Brasil em relação à compreensão leitora em língua inglesa. Destacando a importância dessa competência para o sucesso em vestibulares e para o acesso ao ensino superior em nosso país, este capítulo assinala que, apesar dos anos de estudo da língua na educação básica, os estudantes ainda se mostram despreparados para compreender e interpretar textos de diferentes gêneros nesta língua. Partindo da abordagem LinFE (Línguas para Fins Específicos), referida no texto como ESP (English for Specific Purposes), o objetivo do estudo é demonstrar, por meio de uma sequência didática, que esta abordagem pode oferecer estratégias para atender às necessidades específicas dos alunos, no que tange a leitura.
No capítulo “Conexão literária: um olhar para a experiência leitora na escola” a pouca aproximação entre os jovens e os livros, dentro e fora da escola é abordada. Defendendo o acesso ao conhecimento cultural, artístico e humano presente nos livros para todos, o capítulo relata uma experiência ocorrida no período da pandemia de Covid-19, que objetivava contribuir para a formação no que diz respeito à leitura. Através da rede social Instagram, os alunos puderam realizar atividades que incluíam postagens ligadas as leituras realizadas, o que gerava engajamento e motivação. Ainda relacionado ao ensino de leitura, outros trabalhos que trazem importantes discussões para este livro são: ”O texto literário como ferramenta para o desenvolvimento do pensamento decolonial no ensino de língua espanhola na educação básica: um olhar sobre a latinidade”, “A intertextualidade na leitura de tirinhas”, “Formação de leitores a partir da literatura afrofuturista: uma perspectiva dialógica da linguagem” e “As relações entre autor e personagem e autorreferência na figura do autor: uma análise de macanudo I”. A questão da utilização de redes sociais como recursos pedagógicos também é de grande relevância nas discussões aqui trazidas e, além da experiência com o Instagram anteriormente apontada, temos o trabalho “O uso do whatsapp no contexto escolar: novas tecnologias aplicadas ao ensino de língua inglesa”.
Em “Uso de TDICs e engajamento na sala de aula de língua inglesa: uma proposta de produção escrita em uma turma do 9º ano”, são apresentados os resultados de uma intervenção realizada em uma turma de 9º ano de língua inglesa de uma escola pública na zona rural do estado do Rio Grande do Norte. Partindo de uma abordagem qualitativa, por meio da pesquisa-ação tal como Engel (2000), Allwright (1983 apud Amorim, 2023) e Elliot (1976 apud Silva, 2023), o trabalho busca investigar possíveis impactos na motivação e no engajamento dos estudantes a partir da aprendizagem do gênero textual panfleto, na língua inglesa, por meio da utilização de TDICs. Ainda sobre gêneros textuais, temos o trabalho “Os processos referenciais e a construção da orientação argumentativa do texto: análise do gênero artigo de opinião”. E no que tange engajamento e aspectos emocionais na aprendizagem, temos “A gamificação e os aspectos emocionais na aprendizagem de inglês como língua estrangeira” e “O papel da feira de ciências no fortalecimento da aprendizagem da língua inglesa na escola pública”.
Partindo de uma proposta de aplicação da metodologia ativa, com foco na sala de aula invertida, temos o trabalho “Inovação e inclusão no ensino de língua inglesa: as metodologias ativas em uma turma de inglês inclusiva”. O texto aborda o desafio de se incluir uma aluna surda em uma turma de ouvintes e traz diversas estratégias adotadas nesse contexto, como a redução do número de alunos nas aulas, o ensino do alfabeto em ASL (American Sign Language), a legendagem das aulas gravadas em inglês, a utilização de aplicativos de conversão de fala para texto e o uso de lousas individuais para atividades em pares. Ainda com essa abordagem inclusiva para o ensino de línguas, temos os trabalhos “Quarentena da Libras: a "espetacularização" da Libras por meio de registros sinalizados em diário de bordo”, “EAD e Libras: uma análise do curso ‘introdução à Libras’ no portal EV.G” e “Abril azul: tema transtorno do espectro autista (TEA) em aulas de língua portuguesa”, que trazem discussões relevantes e atuais para o ensino de línguas.
Ademais, questões como a interdisciplinaridade, estereótipos sociais e crenças relacionadas ao ensino de línguas são abordados. Trabalhos como “As crenças dos alunos do 6º e 7º ano a respeito da aprendizagem em língua espanhola” e “Análise da aprendizagem significativa do conceito de tempo em inglês: produção autoral de estudantes do ensino fundamental” trazem demandas contemporâneas que vem recebendo grande atenção nas salas de aula: interdisciplinaridade, questões sociais, autonomia, produção autoral dos alunos e quebra de crenças.
Por último, mas não menos importante, discussões como o papel do orientador na escrita acadêmica como em “Produção escrita dialógica: o bilhete orientador como elemento propulsor para a revisão e a reescrita” e reflexões sobre o ensino de línguas na escola pública propostas em “Ensino de inglês na escola pública: reflexões sobre a problemática do fracasso” enriquecem este volume.
Como uma pequena amostra da riqueza que o GT 15: Ensino de Línguas levou ao X CONEDU, acreditamos que este livro se apresenta com diferentes e pertinentes pontos de interesse para todos aqueles que se dedicam aos Estudos de Línguas, sejam elas adicionais ou primeira língua. O livro apresenta instigantes diálogos e experiências que podem contribuir para a prática docente e para pesquisas em andamento na área. Por sua riqueza e diversidade, o livro também pode funcionar como pontapé inicial para investigações e experiências práticas no âmbito do ensino de línguas.