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ISBN: 978-65-86901-04-7 
VI Encontro Internacional de Jovens Investigadores

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Prefácio

Investigação, Engajamento e Emancipação Humana

Prefácio

   Há várias maneiras de prefaciar um livro e seja quais forem, o que se coloca em curso é um presentear que acontece em reciprocidade. Algo da esfera em que o presenteado e o presenteador se encontram. Entendo que tanto um como também o outro estão em cada um, inexistido a possibilidade de tão somente um ser presenteador ou ser presenteado. Nessa perspectiva, quem presenteia também é presenteado. Há o presente de oferecer, há também o presente em receber.
Acontece aqui uma cerimônia, e esta é recheada de simplicidade e complexidade. A simplicidade dos envolvidos(as), a complexidade do envolvimento. A simplicidade e a complexidade daqueles que escrevem e também dos seus escritos. Escritores (as) e escritos que não estão em separado, tanto nas suas simplicidades como também nas suas complexidades, e tudo isso reunido num grande presentear.
   Assim nos remetemos à obra Investigação, Engajamento e Emancipação Humana, uma obra que trata da vida na vida. Faz isso ao abordar a seara acadêmica, sendo este um espaço crítico-reflexivo em que a doxa (opinião) carece de superação via a episteme (conhecimento). Este par não é trabalhado isoladamente nos textos deste livro, mas articulados pelo caminho da superação dialética dessa construção.
   O prefaciar é um convite a uma relação amorosa. Prefácio e texto são futuros amantes, desses que se deixam ocupar por inúmeros leitores(as), que, com seus escafandros, mergulham no texto sem qualquer pretexto. Vamos fazer um exercício livre no prefácio deste livro, em que livre-livro esteja em parceria com livro-livre.    Presenteador e presenteado(a) em um só, estando livres! Eis uma relação de amor, em que Eros se faz presente de forma intensa, num presentear de um texto que aponta para uma imagem construída no encontro.
   É nesse encontro que reina a pergunta: “Quem somos nós?” Esse “nós” é um “nó”, uma “laçada”, é uma criação e sendo assim, nos diz Emmanuel Carneiro Leão: “Toda criação é original por ser originária.” Um “nó”, um “nós” e vários autoras e autores: eis a originalidade de Investigação, Engajamento e Emancipação Humana, ao pertencer à dimensão do originário pois entendemos que aponta-se para a perspectiva de que não é fácil conviver com o outro por conta das diferenças e da diversidade existente entre os seres humanos, mas que essa diferença e diversidade nos tira de um lugar egocêntrico e nos faz olhar e conviver com o diverso assinalando que viver em sociedade é ter empatia, e esta é, na realidade, complexa, pois as relações sociais são balizadas por instâncias reguladoras do convívio social (o Estado) visto que essas diferenças entre pessoas geram conflitos e a doação para o convívio em sociedade passa a ser previsto por leis. O objetivo dessas leis é o controle de impulsos, visto que o ser humano é imprevisível, capaz de amar e de odiar e, diante disso, é necessário a construção de leis. Estas, por sua vez, podem desencadear um efeito demasiadamente repressivo aos desejos humanos, podendo levar à tristeza, doenças, violências, angústias, suicídios ou isolamentos. Qual a alternativa? O equilíbrio entre os desejos e as regras que regem o convívio social. Entretanto, a sociedade nunca facilitou aos indivíduos olharem para dentro de si, e assim ao olhar para seu olho interno ser olhado por ele.
   Fazer esse movimento do olhar é assumir que o outro não é o demônio, que o inferno não está lá fora em um empíreo próximo ou distante, mas possivelmente dentro de cada um de nós, ou seja, é um nó! Nesse nó, essa laçada, o ser humano vai se tornando o que é, fazendo isso a partir de suas escolhas, sendo estes livres (talvez) para escolher os rumos de sua vida.
   A liberdade do ser humano torna-o angustiado diante das possibilidades de escolha; de livres que são, eles criam mecanismos para achar que não são tão livres por conta do outro que para ele limita sua liberdade. Ao passo que não podemos controlar as decisões do outro, não podendo também controlar a visão que o outro tem de nós. Este outro torna-se o nosso inferno. Não devemos esquecer que esse outro habita em nós: eis outro nó! Entre um nó e outro, são muitos nós...
Na possibilidade de construção desse caminho, num sentido de caminhar em direção ao horizonte, nada mais, é que autores e autoras que nos assinalam caminhos acerca do convívio em sociedade, trabalhando a dimensão da investigação, do engajamento e da emancipação humana apontando ainda que não há em lugar nenhum, regras absolutas de comportamentos para a vida em sociedade e que aquele que reduz tudo em um só aspecto, assume uma postura autoritária, exigindo que todos pensem igual, não deixando margem para as particularidades, singularidades, desejos e impulsos. Esse jeito autoritário de vida em sociedade abre margem para a inferiorização do outro em nome de uma dimensão única da vida. Assim, podemos dizer: “Ele não!” e “Nós sim!”. Diante da construção da ideia da superioridade do “ele” sobre o “nós” o conflito oriundo desse pensamento impede a convivência, não havendo mais capacidade de diálogo, ocasionando a violência e a “derrota da civilização”.
   A civilização é derrotada pelo fascismo e este não é um fenômeno ligado a apenas um tempo histórico, assim sendo, ele pode estar presente por aí, já que tornou-se institucional, misturando de forma confusa características políticas, econômicas e religiosas, e, para o seu desenvolvimento, só precisa de solo fértil para que se instale com sua idolatria ao culto, às tradições, às tendências reacionárias, à indisposição aos novos saberes, ao avanço do conhecimento, à recusa a modernidade, à recusa a uma visão racionalista do mundo, defendendo o irrefletido e a não criticidade. O fascismo se fortalece em momentos de crise econômica e de insegurança que atingem a classe média. A partir desse momento, criam-se inimigos que são a causa da crise e devem ser destruídos, entre esses inimigos estão: imigrantes, desfavorecidos, etnias, ideologias, LGBT’s e estrangeiros. A descrença leva à barbárie, ou seja, diante do descrédito de grande parte da sociedade em relação aos valores democráticos, que são destruídos pelo fascismo, o que pode sobrar é a selvageria. O “ele” destruindo o “nós”, pois o fascista não só mora ao lado, como também está dentro de nós! É preciso que nos curemos de nós mesmos, se isso for possível.
   Prefaciar (não) é preciso e ao aventurar-se pelas palavras que buscam nos insuflar a aprender a pensar partindo de outro lugar; que nos mobiliza a aprender a escutar em um mundo ensurdecido; que nos provoca a caminhar contra os ventos dos totalitarismos e assim, pois, podemos nos libertar fazendo uma travessia, e nela assumir um pensar, um jeito de orientar aquele que deseja atravessar o horizonte aberto, que é perigoso e pode efetivar um perder-se no canto do infinito, no canto doce e indeterminado das sereias que não cantam tal qual as baleias.
   Parabéns, escritoras e escritores, pela produção textual, pelo perímetro aberto, que é perigoso! Parabéns pela travessia, pois somente se atravessa o encanto do mar aberto ao se estar aprisionado no mastro dos arrabaldes, das ideias, nas cordas dos limites, nas fronteiras do não pensado, pois só é possível pensar sobre o que não foi pensado. Esse é seu exercício: investigar, engajar-se e trabalhar na promoção mútua da emancipação humana.

Salvador, maio de 2020
Prof. Dr. Éverton Nery Carneiro (UNEB)
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