A escritora contemporânea Marina Colasanti – filha de italianos, nascida na Etiópia e radicada no Brasil – escreve em diversos gêneros e a partir de diversas experiências culturais. Passageira em trânsito (2009), sua produção lírica mais recente, reforça, a começar pelo título, a perspectiva itinerante que assume a autora em sua vida e obra poética. Partindo das atuais discussões teóricas sobre deslocamentos territoriais nas literaturas pós-modernas, o presente trabalho observa alguns aspectos presentes na poética colasantiana que revelam uma visão de mundo concatenada com tais postulados teórico-críticos e uma construção feminina da voz lírica que deixa transparecer as tensões de gênero. Nossos pressupostos teóricos, portanto, são as áreas de interesse dos estudos feministas e pós-coloniais. Para demonstrar que tais questões não são pertinentes apenas às obras narrativas, objetivamos verificar como se dá a mobilidade desse sujeito lírico no sentido de fuga do espaço privado e conquista do espaço público, a partir da experiência migrante e das reflexões sobre a identidade cultural. Observamos como essa problemática está representada em poemas do livro, e compreendemos que tal relação entre literatura e trânsito, ao problematizar a noção de pertencimento, constitui uma forma de resistência às tentativas de imposição de modelos fixos de identidade nacional e de gênero.