Nossa discussão partirá das experiências de vida, dos relatos e reflexões acionadas pelas personagens Pedro Archanjo, eixo motivador do romance Tenda dos milagres, escrito por Jorge Amado em 1969 e por Arcanjo Mistura, um barbeiro revolucionário habitante de Vila Longe, personagem de Mia Couto integrante do texto O outro pé da sereia (2006). A interseção entre os dois textos se revela em vários pontos, todavia, para esta análise, tomamos como relevante o posicionamento crítico assumido pelos dois Arcanjos em se tratando da fixidez identitária, bem como os questionamentos orquestrados por essas criaturas viventes de universos diaspóricos e/ou pós-coloniais, tipicamente disjuntivos, fraturados, transculturais. Pretendemos destacar, nas ações desenvolvidas tanto pelo Archanjo brasileiro, Ojuobá, como pelo Arcanjo Mistura construído pelo moçambicano, as semelhanças de pensamento, a proposição de uma utopia, de uma saída para sociedades “afetadas” pela dinâmica da diversidade e do encontro das diferenças, principalmente aquelas que tomam a pigmentação da pele como espectro de uma inferioridade congênita. Como esteio teórico, faremos uso das reflexões de Antony Appiah, Ana Mafalda Leite e Ilana Gold Stein.