As composições literárias da poeta norte americana Elizabeth Bishop, textos de memória e poemas de North and South, Brazil, Geography III e Questions of Travel são marcadas por uma pulsante tendência à evasão. Essa tendência reflete um desejo de encontrar um lugar de acolhimento. Considerando tais composições como expoentes de sua condição de sujeito queer, partimos do pressuposto de que essa tendência é resultante de uma forte sensação de não pertencimento, que promove um duplo exílio. Por um lado, este sujeito projeta-se mentalmente para espaços ausentes e utópicos. Por outro, desloca-se constantemente em busca desse (não e outro) lugar, apenas transitoriamente experimentado. Observamos como esse fenômeno – aqui chamado de exílio queer – foi representado sob estas duas perspectivas, partindo do pressuposto de que os sujeitos enunciativos bishopianos configuram-se também como queers, marcados pela impossibilidade de negociar seus espaços de desejo, o que faz emergir uma tensão entre a vida como ela é dada e os desejos que movem estes sujeitos baseados em uma experiência de vida nem sempre condizentes com as normas que regulam as sociedades e seus membros. Para a realização deste ensaio, utilizamos como base teórica os textos de Preciado (2003), Levitas (1990), Hall (2006), Klinger (2012) e Haesbaert & Bruce (SD), dentre outros. Concluímos que o não-lugar, com o qual a poeta e suas composições se relacionam, é na realidade o própria lugar da poeta e de seus sujeitos enunciativos, já que eles correspondem ao que Hall (2006) chama de sujeitos traduzidos, marcados pela falta de um lugar. Há uma relação de intimidade e semelhança entre o sujeito biográfico e o sujeito da enunciação, este marcado nos poemas como uma espécie de alter ego bishopiano, tradutor dos conflitos, tensões, desejos, fugas da escritora que optou por uma escrita de si, particularmente, em seus textos de memória, reunidos na obra "Prose. Elizabeth Bixhop" (2011, editada por Lloyd Schwartz).