A poesia de aparência fácil, com versos curtos, ritmo leve e de temática prosaica da poeta Ana Martins Marques tem narratividade, um diálogo que não cessa, um trânsito entre um “eu” e um “você”, que é, às vezes, o amor, o ser amado; outras, a linguagem, a palavra, a arte da palavra, ser também amado. Teias, redes, tramas, tecidos, enredos, prisões, presas, caçadores, armadilhas do amor e da linguagem – são estes os elementos presentes na sequência dos seis poemas intitulados “Penélope”, do livro de estreia da jovem poeta mineira, A vida submarina, publicado em 2009. O fio de Penélope não se rompe nesses textos. Sua figuração permanece em poemas do mais recente livro da autora, Da arte das armadilhas, de 2011. No exílio de sua odisseia da espera, Penélope e seu fio representam o ato da escrita – sempre complexo, marcado de ambiguidades, de imagens múltiplas que se fazem e desfazem, se criam e recriam, na razão do pensamento poético, em que transitam – especialmente na poesia de Ana Martins – a sensibilidade feminina e a disciplina estética.