Personagem de Dias Gomes, em Saramandaia (1976), Dona Redonda é mulher gorda, aquela que tem carne, que come com voracidade incessante. “Explodir de tanto comer” é a literalidade do dito popular que guarda a imagem alegórica de um momento histórico marcado pela impossibilidade de metabolização do externo no interno, uma hiper-realidade social que, não podendo ser digerida, encontra o limite no corpo da mulher/personagem. Ela explode em muitos pedaços, no meio da praça da cidade. Dona Redonda é casada com Seu Encolheu que, por oposição, é um homem franzino – corpos que marcam a indisciplina social em dose dupla. A primeira poderia ser pensada nos corpos, de ambos, como representativos da desproporção econômica na sociedade capitalista brasileira: uns com muitíssimo – Dona Redonda –, e outros com nada – Seu Encolheu. A segunda indisciplina aponta para as normas reguladoras das relações de poder entre o masculino e feminino, na comparação entre as medidas de um corpo frágil e, consequentemente, em atitude submissa em contraposição ao corpo forte, esperado da altivez masculina, na clara inversão da relação falocêntrica. Trata-se, pois, neste trabalho de mostrar as formas melodramáticas utilizadas nas personagens para ler a transgressão aos limites impostos ao corpo moderno; são as exageradas proporções de Dona Redonda e o desespero amoroso de Seu Encolheu que afrontam uma sociedade controlada. Dias Gomes, reconhecendo os clichês como marcas estilísticas que caracterizam as narrativas folhetinescas, faz, pela ambiguidade tragicômica, uma transgressão literária, para o gênero, mostrando a norma e o risível dela, enquanto índices melodramáticos reconhecíveis na teledramaturgia.