Este trabalho visa apontar algumas relações entre as obras Angústia, de Graciliano Ramos e Voz de prisão, de Manuel Ferreira. Entre os nexos comparativos, destaca-se a hipótese de que nas duas obras são exploradas as tensões entre discursos hegemônicos e discursos renegados ou – como pretendemos caracterizar – ‘subterrâneos’. Na consideração desse embate de forças – cultural, estética, ideológico –, a função do intelectual, tal como pensada por Edward Said, será apontada como decisiva. Para se aprofundar na discussão e fundamentar melhor as hipóteses do trabalho, nossa intenção é examinar mais detidamente os caracteres dos dois romances, bem como o projeto literário dos autores. Para análise de Angústia, serão estudados aspectos da formação e vigência da tradição oratória e beletrista da República Velha brasileira, alguns aspectos do Modernismo e a relação dessas vertentes com a escrita de Graciliano Ramos. No caso de Voz de prisão, serão observados aspectos como: a história da colonização portuguesa em Cabo Verde, o desenvolvimento do Modernismo e do Neorrealismo português e seus desdobramentos na literatura de Manuel Ferreira.