O presente trabalho terá como pano de fundo o esboço dos capítulos 2 e 3 de nossa dissertação (ainda em produção). Seu objetivo é analisar a poética musical de Chico Science & Nação Zumbi (CSNZ) no álbum “Afrociberdelia” (1996), enfazitando a manifestação do ritmo do maracatu como um ritmo poético sonoro. Esse ritmo, que já não é o mesmo tocado/cantado pelas nações pernambucanas, sugere “múltiplas entradas” (DELEUZE, 2009, p. 22), ou seja, multiplas relações, leituras, constituindo-se no que se chama aqui de “maracatu scienciano”. Nesse sentido, a canção em Chico Science & Nação Zumbi será percebida aqui como um poema sonoro que dialoga constantemente com a cultura afro-brasileira (especificamente o maracatu). Ao longo deste ensaio, desenvolve-se a ideia do que vem a ser o “maracatu scienciano de múltiplas entradas”. Para isso, dialoga-se com a perspectiva do sujeito subalterno, proposta por Spivak (2010) e Mignolo (2003), e com a poética híbrida do mangue, considerando o pensamento de Glissant sobre a “poética da diversidade”, ou, como ele chama, de “crioulização” (GLISSANT, 2005). Tendo em vista isso, este trabalho, inicia-se situando esse álbum em seu contexto de produção, ou seja, na cena musical Mangue beat da década de 1990. Em seguida, apresenta-se a visão de Guerra-Peixe (1955), de Ascenso Ferreira (1986), de Mário de Andrade (1999 e 1987) e Viana Amaral (2005), a respeito do maracatu. Por fim, o presente trabalho trata-se de uma análise voltada para o campo da oralidade, tanto do texto verbal, utilizando algumas transcrições das letras das canções, como do campo musical, utilizando células rítmicas, visto que pode haver variações na execução do ritmo em questão. Por esse motivo, acredita-se ser mais proveitoso utilizar as cifras com mais ênfase do que a partitura para analisar as canções de CSNZ, já que elas tem um caráter fortemente oral.