Segundo o crítico e cineasta Maurício Gomes Leite (1936-1993), o Centro de Estudos Cinematográficos, em Belo Horizonte, era "uma agulha oscilante que provocava uma série infinita de intenções, da política à filosofia, da literatura às artes plásticas, e música também (...). O CEC era a busca 'do outro', e ele estava menos na tela do que nas panorâmicas que fazíamos em volta de nós mesmos, numa espécie de desafio e competição que acabaram dando numa ação coletiva extremamente original: nenhum programa, nenhuma teoria fixa, apenas ideias soltas no ar, no bar, recolhidas no fim da noite pelo inconsciente de cada um, transformadas no dia seguinte em projetos individuais - e no fim cada um seguindo seu contraditório caminho." A partir desse depoimento de Gomes Leite, é possível pensar as relações entre cinema, literatura e outras artes, principalmente em termos do papel da crítica em sua dimensão afetiva e intersubjetiva. No momento presente, em que a crítica literária e a cinematográfica entram em crise, é preciso lembrar a etimologia dos termos "crítica" e "crise" que vêm do grego "krino" (escolher), e pensar as crises da estética do sujeito e do objeto, perceptíveis pela arte deflagadora das crises, que por sua vez a constituem enquanto criação, a qual também pode caracterizar a crítica. A afetividade, quanto ao cinema e à crítica cinematográfica de Maurício Gomes Leite e outros autores contemporâneos seus (como Paulo Emílio Salles Gomes, Glauber Rocha e Rogério Sganzerla), em sua relação com o ensaio literário, será considerada em termos de cinefilia. Nesta, o envolvimento amoroso com o cinema é mediado pelo distanciamento crítico e teórico, nos casos citados. Por outro lado, a cinefilia, em ambiente provinciano, como o de uma cidade brasileira, em meados do século XX, propicia o que podemos chamar de cosmopolitismo espúrio, o compartilhamento local e regional de afetos que também vibram em outras partes do mundo.