Por ser o conto uma narrativa breve, o contista revela a profundidade e a grandeza do instante narrado. Sendo assim, a "coisa-mínima", substância narrativa dos contos contemporâneos, deve sempre ultrapassar o "lugar-comum", o "quase-nada" para, por meio de uma linguagem inventiva e questionadora, levar o leitor à reflexão de importantes temas da modernidade. Isto é o que faz Antônio Carlos Viana, escritor sergipano premiado por diversas vezes no sul e sudeste do Brasil e herdeiro de uma tradição de contistas que valorizam o insólito. Promovendo a confluência das várias vertentes hoje reconhecidas pela crítica literária especializada, os seus contos, antes mesmo de almejar a atenção dos estudiosos e do grande público acostumado às histórias mirabolantes, procura “dizer” aquilo que, cada vez mais, os leitores além de ler, querem “ouvir” e, sobretudo, “sentir”. Além de temáticas quase sempre voltadas para “os marginalizados”, os elementos composicionais de suas narrativas provocam uma atmosfera de apreensão e revolta, na medida em que falam à consciência daqueles que se sentem tocados pela desumanidade de “histórias-mínimas” narradas, acima de tudo, para confrangi. Mesmos apresentando indícios de que os impasses socioculturais presentes em seus contos se encontram relacionados a espaços geográficos marcados pela violência e pelo subdesenvolvimento, suas histórias ultrapassam a questão territorial para se lançar em uma dimensão que questiona a própria existência. Independentemente de fronteiras que separam, desqualificam e segregam os indivíduos, a questão que subjaz a condição de impotência, alienação, precariedade e, em alguns contos, de ingenuidade de seus personagens, é a urgência para detectar o quanto de humano resta em cada um deles (dos personagens) e consequentemente, em cada um de nós, leitores. Nesta comunicação, o objetivo é analisar a desnaturalização da violência em Esperanza, conto que faz parte da coletânea de contos do livro Cine Privê (2009), de Antônio Carlos Viana.