Durante os primeiros anos da década de 1890, Eça de Queirós empenhou-se na escrita de três vidas de santos. O autor revisitou a história de São Frei Gil, Santo Onofre e São Cristóvão, desenvolvendo ficções que, além de se proporem a relatar acontecimentos de cunho biográfico, muito próximos dos relatos das hagiografias oficiais difundidas pela Igreja Católica, também acrescentou informações que destoam dos detalhes extraídos das histórias relatadas pela Tradição. Denominadas como Vidas de santos ou Lendas de santos, as narrativas queirosianas foram coligidas por Luís de Magalhães no volume póstumo Últimas páginas (1912), de onde as conhecemos hoje. Neste trabalho analisemos aquela que é tida como a primeira das Vidas ou Lendas de santos, São Frei Gil, procurando demonstrar que na revisitação feita por Eça à vida deste santo português medieval, temos presentes diversos elementos da crítica social veiculada em obras anteriormente publicadas pelo autor, fato que problematiza a falsa impressão de que as Vidas ou Lendas de santos estão desvinculadas do discurso crítico que consagrou Eça de Queirós como um dos maiores escritores do Realismo em Língua Portuguesa.