Partindo do debate contemporâneo sobre a escrita do testemunho carcerário e o papel do mediador em sua produção, procura-se examinar com esta pesquisa as obras de dois ex-detentos da Ilha Grande e do Carandiru: Quatrocentos contra um: uma história do Comando Vermelho, de William da Silva Lima, e Sobrevivente do Massacre do Carandiru, de André du Rap. A pesquisa se ocupa dos discursos produzidos no final do século XX, plasmando-se sob a forma escrita e dando conta da trajetória dos infames no mundo carcerário e da relação problemática que estabelecem estes balbucios com as vozes de mediadores já estabelecidos no campo da palavra escrita. O discurso dos refugos humanos começa a soar estabelecendo um diálogo explícito e muitas vezes tenso com representações anteriores. Esta representação traz uma mudança de concepção do lugar de fala que deriva numa transformação do próprio repertório da literatura e do status do texto literário. Interessa-nos um tipo de infame que afirma seu conhecimento e sua leitura de mundo a partir de uma experiência particular com a qual desafia categorias estabelecidas. Em contraponto com Memórias do cárcere (Graciliano Ramos, 1953) e Estação Carandiru (Dráuzio Varella, 1999), analisaremos o processo de representação destes novos atores através do testemunho carcerário.