A escrita de Jamaica Kincaid é, como ela mesma diz, um forma de resgate. Este trabalho surge com o objetivo principal de analisar a obra dessa escritora caribenha com o intuito de compreender sua narrativa como uma busca por libertação; para essa análise utilizamos os livros ‘Annie John’ (1985), ‘A Small Place’ (1988), ‘Lucy’ (1990), ‘At the Bottom of the River’ (1992) e ‘The Autobiography of My Mother’ (1996). A escrita feminina pode ser encarada como uma promoção ao desejo pela descolonização do corpo e da mente, nesse cenário a figura do ‘eu’ – tão comum nos textos de Kincaid – aparece como tentativa de ter voz e de inscrever sua própria história; os textos kincaidianos apresentam-se num cenário dinâmico, nele percebe-se uma visão intimista do universo das personagens, que estão num fluxo constante, num verdadeiro entre-lugar; justamente por essa razão esses textos mostram uma reflexão ainda mais abrangente acerca das relações hierarquizantes vivenciadas pelo sujeito contemporâneo (homem-mulher, negro-branco, colonizador-colonizado). É nessa perspectiva que utilizamos como arcabouço teórico autores como: Edward Said, Stuart Hall, Homi Bhabha, Roland Walter, Simone de Beauvoir, Gayatri Spivak, entre outros; para estabelecer um diálogo em torno da importância da identidade como peça-chave para a descolonização na obra de Kincaid (sendo ela própria um sujeito que busca na escrita uma identificação que ofereça uma vivência libertadora); além de questões relacionadas ao processo de formação dessa identidade, a posição da mulher na sociedade patriarcal e pós-colonial, a sexualidade como ponto de partida para a libertação feminina, as relações problemáticas entre mãe e filha (que representam também a difícil relação entre nação e indivíduo). É justamente através do entendimento da obra kincaidiana como uma ação de resgate que compreendemos o universo kincaidiano enquanto espaço de libertação, promovido principalmente pelo ato de auto-descolonização.