Artigo Anais ABRALIC Internacional

ANAIS de Evento

ISSN: 2317-157X

RASGA CORAÇÃO E A METONÍMIA CRÍTICA DA “VANGUARDA” NACIONAL.

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Publicado em 12 de julho de 2013

Resumo

As artes cênicas são resultado do momento de um povo em que a maturidade de suas relações culturais o constrange, com certa segurança, a compartilhar os sentidos dispersos que produz; é o momento que a cultura pode e deve demandar o público com sua consciência de público, e se aprimoram, referendam, legitimam e instauram as experiências artísticas comuns, configurando-se um processo particular de produção de materiais simbólicos. Por essa razão, o teatro não será, jamais, uma forma de arte da qual se pode dar prosseguimento a investigações de natureza estética que não estejam ligadas a problemas de fundo sobre o que seja essa natureza, pois que não se passa, como fundamento estruturante das artes cênicas, sem que nesse fundamento esteja contida sua forma social, que se atualiza em cada ato de encenação. Nessa perspectiva, pensar no material teatral brasileiro recente é indagar sobre as formas de produção desse tecido social que o teatro constrói, a que se submete e o qual problematiza, tendo em vista capturar o modo como se desenrola a formação dessa consciência de organicidade do fenômeno teatral por parte dos seus produtores. Essa maturidade, no Brasil, logrou alcançar-se em meados do século XX, ao que se liga a formação de um sistema de produção e circulação desses materiais, consequência do processo de industrialização e urbanização desordenada, alinhando nacionalismo crítico ao amadurecimento de juízos de esquerda que se consolidavam como chave interpretativa para problemas sociais dissimulados. O contexto da ruptura com a legalidade democrática pôde potencializar essa consciência, no que significou a busca de uma liga consistente para a construção de um termo que encerrasse a nova “função” que se imputava a classe artística brasileira. De tal modo, a reorientação dos paradigmas de encenação coloca-se quando o saldo dos efeitos das experiências primeiras constata o desarranjo entre as convenções teatrais da época e o objeto de dramatização, principalmente no que se refere ao cumprimento de seu objetivo no tocante à plateia. No decurso de sua produção teórica, Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, procura definir o lugar dos elementos conjunturais de maneira que estes não estejam subsumidos na estrutura da obra, mas que, essenciais à sua conformação, sejam tomados como categorias estéticas. A peça Rasga Coração, escrita pouco antes de sua morte, manifesta, nesse sentido, a preocupação em reescrever a trajetória recente de um movimento de oxigenação cultural insuperavelmente ligada ao acirramento da disputa no campo ideológico, ao que se relaciona a afirmação de convicções políticas e a justificação de dadas alternativas de soluções formais e acabamento. Acredita-se que o conflito de gerações entre Custódio Manhães Jr. (Manguari Pistolão) e seu filho Luca configura a metonímia crítica do processo de redisposição da forma do teatro nesse período, clarificado o sentido que Vianinha atribui à intervenção social e o julgamento que conclui sobre a validade e pertinência da forma de intervenção fortemente identificada (ideologicamente) em arte, cuja reflexão é, por si, uma reflexão sobre a necessidade da resposta estética politizante, que deve significar um ganho estrutural.

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