Com a publicação do Terceiro Folio das Obras de William Shakespeare em 1664, sete novas peças foram adicionas àquelas que anteriormente foram impressas no Primeiro (1623) e Segundo (1632) folios. Já no Primeiro, cerca de dezoito peças nunca antes impressas em formato Quarto foram adicionadas ao monumental trabalho realizado por antigos colegas do dramaturgo de Stratford-Upon-Avon. Durante muito tempo o “cânone” shakespeareano foi debatido, peças que hoje estão dentro, como Titus Andronicus, já possuíram seu momento de marginalidade. A situação inversa também é válida. Outras, por sua vez, ainda disputam seu lugar no “cânone”, noção que vem se mostrando cada vez mais insuficiente ou incompatível quando falamos de peças de teatro datadas entre o século XVI e XVII na Inglaterra. Isso se dá, especialmente devido ao desenvolvimento de estudos sobre as interações entre dramaturgos – como autoria, atribuição e colaboração – e também acerca das práticas textuais – seleção de texto, edição, impressão e transmissão –, que reforçaram ou alteraram completamente intuições estéticas a partir do preenchimento dessas lacunas históricas. Entre estas sete, apenas Péricles – a primeira da lista das adicionadas –, escrita em colaboração com George Wilkins, está presente em diversas coleções de “Obras Completas”. Porém, a lista vai mais longe, não se restringindo somente àquelas adicionadas em 1632. O caso de Sir Thomas More – não inclusa em nenhum dos Folios e possivelmente nunca impressa – talvez tenha sido o mais debatido (além de Cardenio, uma das peças coescrita com John Fletcher e hoje perdida), pois é uma situação em que a peça contém uma parte muito pequena atribuída a Shakespeare, sendo extremamente relevante à discussão quando se pensa tanto em colaboração – visível em seu manuscrito – ou em uma obra outrora afastada e recentemente incorporada – parcial ou integralmente – ao “cânone” , como também é o caso de Eduardo III. Thomas, Lord Cromwell é outra dessas sete peças, tematicamente próxima a Sir Thomas More, pois junto com a perdida Wolsey, retratam três dos homens que foram Lorde Chanceler durante o reinado de Henrique VIII. Esta comunicação visa discutir a relação entre “cânone” e “apócrifa” na obra de Shakespeare, recorrendo à peças cujos enredos são inspirados em personagens do período Tudor.