O presente trabalho visa problematizar a atual representação dos espaços nordestinos na literatura e no cinema brasileiro contemporâneo. A partir da análise da trilogia literária do escritor Antônio Torres, do documentário 2000 Nordestes, de Vicente Amorim e David França e do filme ficcional Árido Movie, de Lírio Ferreira, busca-se discutir a relação fronteiriça entre o rural e o urbano, voltado para a atual condição de formação dos espaços, levando em consideração os fluxos e trocas produzidas pelo mercado. A reconfiguração de um nordeste brasileiro marcado pelo trânsito livre de acesso às novas tecnologias tem deslocado o significado deste espaço tão marcado por um imaginário de precariedades construído, tanto pela literatura modernista, quanto pelo cinema novo. Um olhar desconstrutor sobre a paisagem nordestina possibilita outras maneiras de apreender os modos de vida e organização social desta população, assim como as formas e noções de pertencimento habitadas na subjetividade dos indivíduos pertencentes a este espaço. O fácil acesso às novas tecnologias tem desafiado o próprio processo de compreensão das expressões espaciais da modernidade, sobretudo quando tratam das noções que envolvem o espaço urbano e rural contemporâneo. As tênues distinções que vem demarcando estes espaços surgem como conseqüência de processos sociais variados. As experiências fundadas na relação do indivíduo com o capital e as novas tecnologias têm gerado formas distintas de organização e visibilização dos espaços também na literatura e no cinema. A mobilidade obtida hoje reflete diretamente na maneira como é representado o lugar. Ao desfilarmos o traçado da “cultura da mobilidade” nas obras literárias e fílmicas vemos como a formação subjetiva dos espaços nordestes e o contínuo nomadismo nordestino não são mais realizados apenas em prol de um oásis, da fonte de água, mas de espaços informacionais, uma vez que os desejos estão sendo constantemente sonhados e produzidos pela cultura midiática formadora destes indivíduos.