A literatura moderna, nos exemplos mais radicais, agenciou no final do século XIX e início do século XX a parte maldita das escritas, assumindo o lugar do negativo, da crítica ao homogêneo, da experimentação sem termos. As noções de despesa e de esgotamento foram colocadas no centro das escritas tensas que Kafka, Celine, Beckett, entre outros, nos legaram como práticas literárias, aquém dos estudos representacionais, históricos ou teóricos, pois o que foi colocado em jogo ameaçava a instauração da lei, da hostilização ao vivo enquanto instância heterológica. Os conceitos do escritor Georges Bataille (despesa, heterologia, experiência negativa) potencializariam as escritas literárias no momento mesmo em que essas, apoiadas por incipientes políticas publicas, se arriscam nas redes de poder estatais? Qual as restrições impostas por um Estado que paulatinamente faz da exceção (normalização, utilitarismo, submissão) a regra?No conluio das burocracias estatais com os dispositivos técnicos insta forjarmos estratégias possíveis de enfrentarmos - com o exercício literário - tanto ao estatuto da violência como fundamento do Estado (Walter Benjamin) quanto ao gerenciamento da vida nua (Giorgio Agamben) aqui entendida como mediadora de uma escrita pousada no horizonte da regulação.