Com base nas ferramentas crítico-teóricas desenvolvidas a partir de um olhar interessado nas relações sócio-culturais das últimas décadas, interessa-nos revisitar o passado, buscando possíveis novas leituras de textos e contextos culturais. Assim, propomos trazer para nossa discussão o texto Paixão Pagu: a autobiografia precoce de Patrícia Galvão (2005), na verdade, uma carta que Pagu escreve ao seu último marido e que este repassa aos seus dois filhos. Estando aqui seu discurso diretamente exposto, material de natureza autobiográfica, intencionamos desenvolver o debate sobre essa mulher revolucionária que lutou pelos ideais comunistas e teve de lidar com tantas outras amarras, inclusive as patriarcais. Na verdade, por uma perspectiva do feminismo afinado com as teorias pós-coloniais, pretendemos indicar a intensidade das influências da esquerda européia que, via Partido Comunista, chegavam ao Brasil de então e como, muitas mulheres e homens, embarcaram em projetos prontos, vindos de outro continente, pagando um alto custo pelas adaptações culturais que lhes eram impostas. Propomos considerar, para além dos avanços políticos coletivos, o possível caráter colonizador que o engajamento da época impunha aos militantes, principalmente às mulheres que decidiam ingressar na luta política de esquerda. Neste sentido, tendo por suporte, entre outras, Ahmed, Mouffe, Brah no que se refere às relações entre o feminismo, a cidadania e o pós-colonial, e de Cameron e Maingueneau, no que diz respeito à análise do discurso e autobiografia, buscaremos desenvolver o debate proposto através da revisão descolonizadora do contexto em que a carta de Pagu foi produzida.