O fascínio do mito do cavaleiro andante, presente desde a formação do reino português, constitui temática recorrente na literatura portuguesa que entrelaça história e literatura e funciona como um paradigma da identidade nacional sustentada pelo sonho de grandeza e predestinação. Sob a perspectiva da intertextualidade, o trabalho objetiva analisar o aproveitamento desta figura mítica no romance Cavaleiro andante, de Almeida Faria, buscando delinear os processos inerentes à condensação de significados variados na apropriação/ recriação dessa figura mítica medieval. Trata-se, pois, da apropriação de um símbolo em um outro contexto, e de um tempo em outro tempo, de um texto em outro texto, de uma visão em outras visões, o que metodologicamente impõe a necessidade de delinear os textos que sucessivamente constroem essa recepção/ relação intertextual, assinalando elementos - temáticos e lexicais - em que se desenvolve a arquitetura da obra; como também, salientar os condicionamentos históricos, sociais, culturais, ideológicos e literários, que podem ter determinado e orientado esse processo estético-criativo. Tendo em vista o intuito crítico e demolidor da produção literária pós-Revolução do Cravos e a desconstrução do herói predestinado e vitorioso, consideramos que o cavaleiro andante contemporâneo, recriado por Almeida Faria constitui uma crítica contumaz à dependência do imaginário lusitano a uma figura guerreira de cariz salvacionista.