O presente trabalho pretende buscar, em seu corpo maior, uma reflexão em torno de registros singulares da política na contemporaneidade. Na escrita/leitura desse processo, buscaremos mapear continuidades e rupturas de determinadas discussões em andamento no campo da crítica cultural, contrastando algumas produções e circuitos que nos permitam percorrer um amplo campo de relevâncias também em torno da ética e do trabalho no mundo contemporâneo. Com o intuito de tatear ressonâncias de interesse para nossa pesquisa, optamos por nomear nossos campos de discussão com ideias e noções que, ampliadas, nos permitem articular conteúdos de forma privilegiada, inventariar amostras e tatear importâncias em questões que pretendemos tornar sensíveis. Nesse caso, a partir de uma reflexão em torno da própria noção de contemporâneo qual apresentada por Giorgio Agamben, as duas superfícies às quais gostaríamos de direcionar nossa apresentação são as do amadorismo e do cuidado. Acreditamos que um dos principais traços da contemporaneidade é um amadorismo singular, em nada atrelado aos usuais sentidos pejorativos, propiciado pelo advento de alguns artefatos e artifícios próprios da atualidade, mas também sincronizado com o forte abalo das separações especializadas de nossa tradição de saber. O amadorismo que pretendemos apresentar não é apenas um corpo complexo de conhecimentos e práticas inclinados a um queimar etapas: acreditamos que a importância de “mantermo-nos na relação justa com uma ignorância, deixar que um desconhecimento guie e acompanhe os nossos gestos” (AGAMBEN, 2010, p. 132) reflete-se no entendimento, por fim, da “condição do amador como uma posição teórica e política” (RANCIÈRE, 2012:16). Buscaremos, portanto, ampliar as amostras e o escopo dos termos pelo qual dizemos, definimos e praticamos o amadorismo.Por sua vez, há de se fazer notar a presença marcante que a ideia de cuidado alcança na contemporaneidade. Não faz parte de nosso foco o conjunto de serviços, produtos e tecnologias atrelados a um cuidado com o corpo e com o mundo em que vivemos (sem dúvidas representantes também de tal importância), tampouco a sua expressão mercantil, a da sustentabilidade. Se as variadas formas de musealização (o tombamento de cidades, etnias e gêneros culturais) articulam-se melhor com nosso campo de interesses, este atenta, principalmente, para uma versatilidade promíscua que tal ideia tem sustentado na esfera da convivência pública e, em particular, da diplomacia e política internacional. Gostaríamos de investigar a presença do cuidado como dispositivo-respaldo, aparência especiosa, habitat discursivo privilegiado para a articulação de ações não raro municiadas por forças e protocolos da truculência, da dissimulação do reacionário e da hipocrisia – nesse caso, dirigimo-nos ao campo das interações da política internacional, buscando eventos, fenômenos e acontecimentos que nos permitam tensionar o cuidado como dobra de manipulação da opinião pública a partir de interesses polarizados e alheios à mesma.