CHAUVIN, Jean Pierre. A retórica contra a demência em machado de assis. Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4352>. Acesso em: 07/11/2024 09:06
Somente sessenta anos após a morte de Joaquim Maria Machado de Assis (1839 – 1908), vieram a público os primeiros estudos que se concentravam na linguagem e expressão machadianas, com vistas à manutenção das posses e manutenção das assimetrias sociais, por parte de seus narradores e personagens. O propósito deste trabalho é resgatar os estudos de Maria Nazaré Lins Soares e Hélcio Martins, com vistas a examinar o emprego de expedientes retóricos por parte dos narradores machadianos, especialmente na novela O Alienista (1881) e no romance Quincas Borba (1890). A análise comparativa de ambas as narrativas parece ser promissora, tendo em vista o fato de que, num e noutro caso o estado mental dos protagonistas é colocado à prova justamente pelo saber, seja em excesso, seja pela falta. Enquanto o médico e douto Simão Bacamarte ampara o seu poderio máximo na remota vila de Itaguaí em seus vastos conhecimentos sobre Ciência, Filosofia e Religião, o modesto e pouco talentoso Rubião padece com a demência, à medida que se enfronha nos bastidores da capital do Segundo Império, cujos mecanismos de ascensão social e manutenção da persona ele não alcança e quanto menos compreende. Em Machado de Assis, o tema da loucura comparece à ficção oitocentista brasileira como provável alinhamento com o apelo humanista de autores clássicos que o antecederam. De Hipócrates de Cós a Erasmo de Rotterdam; de Blaise Pascal a Miguel de Cervantes Saavedra, a insanidade converteu-se em poderoso recurso capaz de desestabilizar tanto os personagens, no âmbito da ficção, quanto o horizonte dos leitores. O presente estudo relaciona-se a um projeto de pós-doutorado, em andamento junto ao Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, sob a supervisão de Hélio de Seixas Guimarães.