Na contemporaneidade, os estudos amazônicos se voltam para a reflexão sobre sua rica diversidade social. Neste caminho, percebe-se que os estudos sobre as variadas formas como esta sociedade complexa se vê, se conta e se expressa buscam discutir as múltiplas relações e as múltiplas identidades de suas gentes. Por outro lado, esta visão esbarra em uma outra, ainda muito difundida no senso comum, segundo a qual a Amazônia é vista como um todo homogêneo, que nubla as sensíveis diferenças existentes entre os grupos sociais, culturais e étnicos em cada um dos cantos desta imensidão territorial. Historicamente, esta visão da Amazônia foi cunhada a partir de elementos que vão desde o El Dorado mítico de Carvajal até o Inferno Verde dos anos 1960/70, envelopadas hoje em dia pelo epíteto de pulmão do mundo, de celeiro da biodiversidade, que originaram uma noção de região e de regional totalizante e totalizadora. O objetivo deste trabalho é lançar um foco sobre esta discussão, por meio do cotejo de dois poemas do roraimense Eliakin Rufino: Quentura e Roraima, publicados na coletânea Cavalo Selvagem (2011). Em ambos, o autor se volta para cantar e contar o seu lugar de referência, individualizando-o e identificando-o, inclusive em relação à Amazônia. Parte-se da discussão proposta pela Geografia Cultural, mais especificamente da noção de topofilia, para demonstrar a presença e a força poética que o lugar Roraima tem nestas obras. Desta forma, busca-se evidenciar que estas obras, a exemplo de outras suas contemporâneas, também carregam em si uma força programática, cujo caráter politico e cultural remete ao questionamento não só da visão totalizante e totalizadora acima apresentada, mas também ao questionamento da própria noção de região e de regional.