O diálogo estabelecido entre a poesia e a pintura não é um feito da contemporaneidade. O pacto travado entre as duas linguagens remonta (dentre outros autores ) a Horácio, no seu estudo: Ut pictura poesis (século V a. C.) em que já se problematizava a trama envolvendo os versos e as pinturas. Em suas postulações, a poesia é considerada como pintura que fala e, por sua vez, a pintura era tratada como uma poesia muda (isso na concepção horaciana daquele período). Com esta assertiva apresentada, além das discussões de outros teóricos como Heidegger, Walter Benjamin, dentre outros, nota-se que ambas as manifestações artísticas se irmanam e mantêm profícuo trânsito interdiscursivo. Fato este que se torna ainda mais notório quando a escritora paulista de Botucatu, Maria Lúcia Dal Farra, em 2002, ao lançar a sua segunda coletânea de poemas, sob o título de Livro de Possuídos, apresenta em uma seção do referido texto, poesias que dialogam com a pintura do artista holandês Vincent Van Gogh. O presente trabalho objetiva, assim, discutir como se estabelece a comunicação entre as referidas artes no pulso de escrita ficcional da poetisa. Para tanto, efetuaremos uma leitura comparativa entre as telas de Van Gogh apropriadas pela escritora e as suas poesias, notando as aproximações, releituras e distanciamentos presentes em seu material literário. Evidenciamos ainda com a nossa pesquisa que, na seção intitulada Van Gogh , além de uma descrição feita sobre a tela “possuída” ( até mesmo o nome do quadro é apropriado), a autora imprime a sua leitura sobre diferentes temas que são de seu interesse, dentre eles: a sua concepção de arte e estética, além de discussões relativas ao campo da linguagem literária de modo geral. Pensando por essa linha, pode-se afirmar que a incursão pela li nguagem pictórica de Van Gogh, realizada por Maria Lúcia Dal Farra em seu livro, busca descerrar o que está “invisível” no quadro e trazer à tona um olhar (analítico e criativo) para as imagens do pintor através de seu texto artístico.