Este artigo pretende discutir como na obra de Jorge Amado Gabriela cravo e canela: a crônica de uma cidade do interior, cantigas e xilogravuras cruzam-se no processo de sua estruturação estética e significativa, tornado-se elementos internos relevantes para a desconstrução e reinvenção de estereótipos femininos. Assim, observa-se como cantigas de amigo, de ninar e de roda dialogam com xilogravuras para recriarem as vozes femininas de Ofenísia, Glória, Malvina e Gabriela que intitulam cada capítulo. As personagens cantam na abertura dos capítulo e suas cantigas trazem um pouco de seu olhar sobre o mundo, representado em xilogravuras referentes a subcapítulos relevantes para cada uma. Deste modo, xilogravura e cantigas interdependem-se para recriarem o feminino na obra, fazendo dela um romance que é, por si só, uma sinfonia de textos em que o autor consegue orquestrar manifestações populares, dando-lhes novos enfoques que furam o olhar predominantemente patriarcal sobre a mulher presente no imaginário nordestino de meados do século XX.