ENTRE A CASA E A RUA: O ESPAÇO FICCIONAL E A PERSONAGEM FEMININA NO ROMANCE PORTUGUÊS DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XXMaristela Kirst de Lima Girola (PUCRS)Este trabalho busca apresentar uma síntese da tese de doutorado, orientada pela Profa. Dra. Maria Luíza Ritzel Remédios, que foi defendida em 12 de janeiro de 2012, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), sendo, portanto, fruto da última orientação acadêmica concluída pela renomada e saudosa professora e pesquisadora. O trabalho, que contou ainda com a coorientação da Profa. Dra. Helena Carvalhão Buescu, da Universidade de Lisboa, dedica-se a estudar o espaço do feminino na sociedade patriarcal portuguesa, em romances da segunda metade do século XX, tomando como objetos de análise e de comparação as seguintes obras: A Sibila (1954), de Agustina Bessa-Luís; O Anjo Ancorado (1958), de José Cardoso Pires; Casas Pardas (1977), de Maria Velho da Costa; História do Cerco de Lisboa (1989), de José Saramago e Não entres tão depressa nessa noite escura (2000), de António Lobo Antunes. A análise fundamenta-se na teoria da literatura, com o apoio dos estudos culturais, de teorias feministas e de teorias sociológicas. Para o estabelecimento de aproximações e contrastes entre os romances e para a apresentação das reflexões daí advindas, toma-se como ponto de partida duas categorias sociológicas, propostas por Roberto Damatta, a casa e a rua, entendidas como espaço privado e espaço público, dando conta de dois modos distintos de pensar e agir, ou seja, não designando simplesmente espaços geográficos ou objetos físicos, mas esferas de ação social. As ideias sobre “percepção”, desenvolvidas por Paul Ricoeur, Merleau-Ponty e Helena Buescu, servem de apoio teórico para o entendimento do espaço (do mundo) como parte integrante da noção de “sujeito”. O estudo demonstra que a progressiva complexificação da construção da personagem feminina relaciona-se direta e necessariamente à forma de construção do espaço ficcional. Procura estabelecer relações entre a representação do espaço e a construção das personagens, buscando demonstrar como os autores abordaram a condição e a identidade femininas em seus universos ficcionais. Os romances produzidos na segunda metade do século XX, em Portugal, promovem uma quebra de paradigma em relação à configuração da personagem feminina, pois é quando a mulher passa a ser efetiva e recorrentemente constituída no romance como um “sujeito”, isto é, como um ser que se caracteriza pela possibilidade de se colocar questões, sendo simultaneamente o questionador e a coisa questionada. Palavras-chave: Literatura Portuguesa, Romance do Século XX, Personagem Feminina.