Nos romances do siciliano Leonardo Sciascia (1921-1989) encontramos histórias que podem ser consideradas hipóstases da condição humana. Suas narrativas revelam o conflito trágico entre o indivíduo e as forças obscuras do poder que destroem o homem; forças anônimas, assépticas e indefiníveis. Seus personagens investigam e se envolvem completamente com os fatos até que a decifração do mal surja. Ele apresenta a Sicília como o espelho de uma realidade que não tem fronteiras: uma constelação de instituições jurídicas beneficiadas por imunidades e privilégios que sobrevivem bem radicados no comportamento social. A máfia sobrevive através da sua força mitológica, que pode ser interpretada como uma herança antropológica associada a complexas forças financeiras e políticas. No seu último romance, Il cavaliere e la morte (1988), o protagonista é um velho e incorruptível vice comissário de polícia que deve enfrentar essas forças e a morte que já circula em seu sangue. Além da trama policial, nos deparamos com uma estoica reflexão, religiosamente laica, sobre a dor e sobre o inevitável destino da vida que é o fim.