O choque entre a cidade babilônica e o interior rústico, entre o dito civilizado e o rito primitivo, entre a aparência e a essência, eis o sumo poético que é encenado na obra "O Dia dos Prodígios", de Lídia Jorge. Procuraremos demonstrar a literatura enquanto transformadora da realidade, explicando-a por meio da construção de um espaço-tempo mitopoético no interior de Portugal da época da Revolução dos Cravos. O estudo se dará de modo exegético, procurando interpretar o desenrolar do texto narrativo, e comparativo, buscando no mito de Sísifo, em William Shakespeare, em Guimarães Rosa e em Edgar Allan Poe fontes primárias de composição. Também serão utilizados como base os conceitos de singularização de Viktor Chklovski, de alegoria de Walter Benjamin, de tempo cíclico de Giambattista Vico, de neobarroco de Severo Sarduy e de crise sacrificial de René Girard para demonstrar o entrecruzamento de dramas cuja sensação, reflexão e práxis produzem um difícil vislumbre de uma libertação sutil.