A representação da História no romance O tempo e o vento deve grande parte de seu acabamento aos registros que têm origem na imprensa periódica. Para a configuração do eixo histórico da narrativa, Erico Verissimo recorre sistematicamente a editoriais, reportagens e anúncios de jornais e revistas da primeira metade do século XX. Estes recortes são incorporados à ficção e conferem autenticidade aos eventos narrados, aumentando a sensação de veracidade para o leitor. Seguindo as citações dos jornais Correio do Povo e A Federação, de Porto Alegre, Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, e da revista francesa L’Illustration pode-se localizar em detalhes os principais acontecimentos históricos da época representada. Além da materialidade do noticiário periódico, o recurso técnico ancorado na fonte jornalística também se manifesta na ficcionalização da própria imprensa, o que inclui jornais fictícios, personagens jornalistas e a “invenção” de notícias que tiveram origem em outros documentos. Neste sentido, existe na trilogia formada por O continente, O retrato e O arquipélago um equilíbrio constante entre ficção e realidade, fábula romanesca e fato jornalístico, cujas relações revelam um estilo peculiar de criação literária. Pretende-se mostrar nesta análise o funcionamento da técnica narrativa do escritor a partir da transposição de conteúdo da imprensa para o romance, bem como as implicações estéticas desta opção de fonte documental.