O ESPAÇO REVISITADO: LEITURA COMPARADA DOS CONTOS DE GUIMARÃES ROSA, MIA COUTO E TEIXEIRA DE SOUSA
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Conjectura-se que os elementos científicos e míticos presentes nestes contos permitem uma apreensão diferente do espaço: este não seria visto de modo binário, mas de modo integral. Assim, não apenas se coadunam elementos denominados interiores e exteriores, abertos e fechados, rurais e urbanos, mas torna-se possível vislumbrar o não-visível, o imaterial no interior do próprio signo linguístico ou, ainda, nas pequenas variações que advêm da percepção (José Gil, 2005). Na análise comparada, o mundo que se sustenta pela “imaginação explicativa” e o outro, pela “imaginação poética” (cf. Antonio Candido) não apenas geram tensão, mas permitem alcançar outro entendimento ou outra reestruturação deste espaço. Mas o saber científico versus o popular é quase regra na contemporaneidade. Segundo Jean Abreu (2006), antes do século XVIII, não havia distinção entre elementos físicos é espirituais e, por conseguinte, a adoção de práticas médicas e populares não caracterizava a classe social a que pertencia um indivíduo. Com o tempo, a medicina intelectualizada afasta-se da popular. Em certas obras literárias, expõem-se espaços separados, destruídos, desencantados, como é o caso de "Ensaio sobre a cegueira", de Saramago. Estaríamos, neste caso, mais próximos do que Adorno e Horkheimer (2006) afirmam: o objetivo da ciência seria o de extinguir a possibilidade do mistério. Neste trajeto da ciência moderna, a tentativa de encontrar mais liberdade através do pensamento racional torna-se malfadada, pois o mundo já estaria desencantado. O feiticeiro já não tem os mesmos poderes, pois substituiu suas práticas por “pensamentos autônomos”. Não há mais o mistério porque uma “unidade conceitual” domina toda a forma de vida e pensamentos. Porém, nos contos a que aludimos, procuramos evidenciar que a mistura de sentimentos e ideias revela outras dimensões que podem escapar do controle rigoroso da Dialética. Como aporte teórico utilizamos ainda as obras de José Gil, Nise da Silveira e Maurice Blanchot. "Grande sertão: veredas" também nos possibilitou fundamentar a análise. Neste romance de 1956, alguns críticos afirmam a existência da passagem do mitos ao logos e que o mundo misturado – na linguagem, nos espaços, nos gêneros, nos sentimentos – representa a passagem do homem em busca do ser que deseja (Arrigucci, 1995). Outros veem na mistura que há a opção pelo mito, visto que permanece em primeiro plano o mundo das “crianças, dos loucos, dos bichos e dos homens telúricos” (Chiappini, 2002: 219). 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