Em 2012, completaram-se vinte anos da publicação do romance Terra sonâmbula, marco da literatura moçambicana pelas mãos de Mia Couto, um poeta por vocação que estreava a narrativa extensa. Sua primeira obra de projeção internacional, como se sabe, coincidiu com o ano de assinatura do Acordo de Paz em seu país. Encerravam-se assim dezesseis anos de conflitos armados, ou guerra civil, que tingiram de sangue a costa índica como o rescaldo dos anos de lutas pela independência. Por isso, o tempo da narrativa focaliza o imediato pós-independência marcado pela guerra e faz do enredo um importante testemunho ficcional de uma época determinante na história moçambicana pós-colonial, sendo indicativo dos pactos político-sociais que dali se seguiriam. Esta comunicação tem por objetivo discutir o modo como o enredo de Terra sonâmbula expressa a inquietante crítica social do pensamento coutiano, conforme ele tem manifestado em textos de opinião/intervenção. Após décadas de independência, Mia Couto ainda questiona se “no passado, o futuro era melhor?”. Se para esse escritor e pensador “o colonialismo não morreu com as independências. Mudou de turno e de executores...”, o pós-colonialismo em Moçambique ainda configura-se como um tempo de esperas e sofrências?